segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O ódio irracional de Lula, como entender?

"Lula é um político brasileiro com defeitos e virtudes. Se você não conseguir ver uma coisa ou outra é porque, certamente, a cegueira da paixão ou do ódio está tomando o seu corpo como um câncer.

O que se percebe no caso de Lula é que o ódio intenso tenta, sobremaneira, vencer o amor intenso. É uma luta. A luta entre o amor e o ódio a esse personagem da história
 brasileira.

Outros já experimentaram do mesmo fel. Mas não sei se há concorrentes para Lula. Talvez nem Getúlio.

Quantitativamente, Lula está em vantagem. Mas os odiadores acreditam que seu ódio seria de melhor qualidade, uma espécie de crème de la crème do ódio - um ódio insuperável por qualquer amor de multidões.

É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.

Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.

A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.

Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto."

por Weden, no blog do Nassif

"O ÓDIO DE CLASSE CONTRA LULA

O ódio contra Lula é um ódio de classe. As leituras que o entendem como um ódio simples, produto de amores não correspondidos, ódio irracional ou, como colocam alguns analistas, ódio-ódio deixam de considerar este ódio criticamente, no contexto ideológico, político, social e histórico que o produz. No contexto ideológico, o Lula é odiado porque não tem diploma de nível superior, não fala inglês, nem francês, nem alemão, não é culto e literato, é portador de uma linguagem simples e direta, que desdenha dos discursos elaborados das elites pátrias que servem para mascarar os problemas sociais, suas causas e seus responsáveis, e ludibriar o povo. Lula não somente teve acesso ao topo do sistema com os recursos intelectuais limitados a que teve acesso: ele também contribuiu para destruir o falso requinte do discurso elitista social e político (e porque não econômico também?) pátrio, inclusive muitos discursos acadêmicos que sempre foram meros simulacros de racionalidade civilizatória. Em outras palavras, em termos ideológicos Lula é um discurso corrosivo e erosivo da ideologia dominante, uma ideologia falsamente racional e civilizatória, usada para justificar uma irracionalidade econômica, política e social e para consolar a consciência de uma elite que, por meio de um autoengano, sempre tentou posar de chique e civilizada. Em última instância, Lula é uma fratura, um golpe na consciência da elite pátria e, somente nesta medida, um problema psicanalítico para ela. Em termos políticos, o ódio contra Lula é a expressão do sentimento que sempre dominou o imaginário da elite nacional sobre o Estado e sua máquina: sua propriedade, seu bem, seu patrimônio. Não é sem razão que uma das direções de ataque desta elite é a de Lula como ladrão, o único grande ladrão que roubou coisas que ninguém viu. Sim, o Lula roubou o Estado das mãos da elite nacional, e está conseguindo dar seguimento a este roubo ao reeleger seu sucessor e ao formar novas grandes lideranças políticas que darão prosseguimento a esta façanha. O sentimento de ter sido roubado é inerente a uma elite que sempre roubou o povo e o Estado, sem manifestar qualquer peso de consciência por isso porque, afinal, era sua propriedade, e propriedade privada não se rouba, explora-se. Em termos sociais, o ódio contra Lula resulta da sua luta pela dignidade dos mais simples, daqueles que sempre viveram a margem da dignidade, da cidadania, daqueles que tiveram sua humanidade negada por séculos e séculos de uma exploração colonial escravocrata e que permaneceram sendo renegados como seres humanos no imaginário e na prática econômica, política e social da elite nacional até os dias presentes. Dignidade e humanidade é algo a que esta elite se acostumou como sendo inerente e exclusivo de sua condição social. A sua diferença e o seu valor próprio sempre foram compreendidos com base na negação de dignidade e humanidade as camadas populares da sociedade. Claro, seria difícil esta elite se olhar no espelho e enxergar no horizonte da sua imagem o rosto de um negro, de um índio, de um mulato, de um pobre, ver que estes seres que ela abomina, explora, maltrata, sodomiza, rejeita, nega é também um ser humano que, essencialmente, é ela também, é como ela, é seu igual em essência. Por tudo isso, o ódio contra Lula é um ódio histórico, produto de forças ideológicas, políticas e sociais que vieram a luz com toda a sua violência quando se sentiu incomodada em seu trono; são forças habitam o imaginário profundo, construído ao longo de séculos de uma dominação sangrenta e eficaz de uma elite que sempre se viu privilegiada por achar que seus privilégios eram algo natural e incontestável, por se amparar numa ideologia que a fazia se sentir acima do bem e do mal e por se ver, neste momento, sendo forçada a mudar aquilo que é."

por Válber Almeida, no blog do Nassif