As linhas gerais do que foi o bate-papo:
Dilma, exclusivo: vamos defender a indústria brasileira
Enviado por luisnassif, dom, 11/03/2012 - 00:31
Autor:
Luis Nassif
Quem imaginava uma presidente emocionalmente
abalada, depois de chorar em público pela saída de um assessor, pode
desistir. A Dilma Rousseff que entrou no salão do Palácio Alvorada para
tomar café vinha lépida, feliz, rejuvenescida e entusiasmada pela
visita a Hannover, Alemanha, para participar da Feira de Tecnologia.
Lá, conferiu os stands alemães, quase todos apenas com filiais de empresas coreanas.
Depois, os brasileiros, com sistemas criativos,
inovadores. “Todo mundo tinha coisa bem legalzinha”, conta a mineira
Dilma, Entusiasmou-se com o sistema de controle de voo da Embraer, com
a apresentação de Marcos Stefanini, de uma empresa brasileira de TI,
que mostrou o grande diferencial brasileiro: jeitinho, criatividade.
Foram 90 minutos de entrevista, interrompida por um telefonema de Lula que mostrou ter recuperado a voz.
A seguir, os trechos principais
da entrevista. Nela, diz que a preocupação número um do governo, daqui
para diante, será com o tsunami monetário e os riscos que traz para a
indústria brasileira. “As condições do mercado mudaram”, avisa ela. E
analisa também as marolas em torno da suposta crise da base política.
Como os países ricos estão tratando a crise
É importante analisar como os países ricos tratam a crise.
Comecemos pelos Estados Unidos. O governo Barack Obama assumiu que
queria política de crescimento imediato e correção de rumos fiscais no
médio prazo. O problema foi a derrota no Congresso que o obrigou a
optar pelo "quantitative easing" (programa de expansão monetária).
Empurraram a crise com a barriga, aumentaram a quantidade de dinheiro
nos bancos, mas não rolaram as dívidas das famílias, o que poderia ter
destravado o mercado interno. Só agora nas eleições, depois de quatro
anos de crise, começam a rolar as dividas das famílias.
O "quantatitve easing" é um mix de política macro, com
taxas de juros lá embaixo, expansão monetária acelerada e segurar o
lado fiscal. É evidente que por trás dela há a intenção de desvalorizar
o dólar e melhorar o emprego interno.
O governo Obama foi levado a isso politicamente.
No caso da Europa, não: optaram por isso. O último
relatório do BIS (o banco central dos bancos centrais) mostra que a
estratégia visa dois objetivos principais: impede a crise bancária e
ganha tempo para dois mecanismos: desvalorizar o euro e jogar a conta
sobre países emergentes que têm câmbio flutuante. Mas, por outro lado,
pode estar criando uma enorme bolha monetária.
Não há unanimidade no governo alemão com respeito ao
tamanho da liquidez. Para eles foi importante para evitar um Lehman
Brothers alemão, mas só isso. Não existe unanimidade na Alemanha sem
sobre isso nem em relação à Grécia.
Por trás da expansão da bolhas, há um medo da inflação, pelo histórico alemão com a hiperinflação. Medo que nós compartilhamos.
A arbitragem com países de câmbio flutuante
No filme "Muito Grande para Falir", na cena final o
Secretário do Tesouro Paulson pergunta a Ben Bernanke se estava
satisfeito com o fato dos grandes bancos terem absorvido os empréstimos
para rolar dívidas. Bernanke, quieto, responde: não tenho certeza se
eles vão emprestar. De fato, não emprestaram: uma parte ficou
depositada no próprio FED, outra parte foi devolvida.
No caso da Europa, são um trilhão de euros emprestados
a 1% ao ano, que em breve entrarão na ciranda financeira. Irão investir
em títulos da Itália e Espanha, aumentando sua exposição? Não: virão
fazer arbitragem aqui e em outros países. Tem uma enorme bolha a
caminho.
O problema é que essa desvalorização cambial
artificial é a forma de protecionismo mais feroz que se tem. Há um
discurso dos países centrais, de que são defensores do livre comércio.
Mas praticam o protecionismo mais feroz que se tem. E essa
desvalorização artificial da moeda não está regulada pela Organização
Mundial do Comércio (OMC). Então não venham reclamar de algumas medidas
absolutamente defensivas que o Brasil toma.
Hoje em dia, via tsunami monetária, está em curso no
mundo a prática das desvalorizações competitivas, o que se chama de
"empobreça seu vizinho".
É uma situação esquizofrênica na Europa, que não consegue uma solução de crescimento.
Muitos países estão com graus de desemprego do ponto
de vista política incompatível com sistemas democráticos abertos. A
dívida grega não é financiável, assim como a de Portugal. Como conviver
com nível de desemprego que chega a atingir 45% dos jovens? Destrói o
tecido social, tira das pessoas a esperança.
A estratégia brasileira
No Brasil, vamos ter que perceber duas coisas:
Primeiro, as condições do mercado internacional
mudaram. Estamos vivendo situação diferenciada. Não se pode perder a
consciência do tsunami monetário. Tem que fazer avaliação sobre as
estratégias a serem tomadas, e não se faz de forma abrupta e
apaixonada. Com muita cautela, frieza, tranquilidade, iremos acompanhar
o desenrolar da situação e tomar as medidas cabíveis.
Não tenho como adiantar as medidas cabíveis, mas para o governo brasileiro esta é a questão principal.
Se perguntar hoje qual é o maior cuidado do governo,
respondo: é acompanhar como o Brasil se defende dessas políticas que
são abertamente protecionistas praticadas pelos governos desenvolvidos.
A necessidade do investimento no Brasil
A própria China está promovendo uma transição do
modelo de exportações para o mercado interno. Não vão parar de
importar, mas irão se situar de forma diferente no mundo.
Por todas as manifestações que lemos: acho que os
chineses se sentiram muito fragilizados diante da crise dos seus
maiores mercados. Não podem mais confiar só no mercado externo.
Wen Jiabao disse que o modelo era desequilibrado,
insustentável (usa quatro adjetivos): eminentemente desequilibrado:
levará a impasses que terão que ser resolvidos.
A China caiu na armadilha do sobre investimento elevado, o que cria rigidez econômica muito forte. Agora, tentam fazer a versão.
No Brasil, anda estamos na fase de acelerar
investimento. Em breve pretendo fazer uma reunião pessoal com os
maiores empresários do país sobre a questão do investimento, Uma parte
da decisão depende da expectativa, do que Delfim gosta de chamar de
"espírito animal". O Brasil oferece todas as condições.
Em todos os lugares que vamos são as mesmas avaliações
dos empresários internacionais. No último dia na Alemanha tivermos
reunião com Angela Merkel na ABDI (o equivalente à nossa Confederação
Nacional da Indústria).
A reunião foi para que nos falassem como pretender
investir no Brasil. Havia uma porção de setores, quase uma rodada de
negócios. E todos eles vinham, diziam que tinham empresa tal, na área
tal, e todo interesse em investir no Brasil. Hoje em dia a maior parte
da população alemã é de aposentados e crianças. E o Brasil tem o bônus
demográfico. Eles olham para isso, para nosso mercado, para a
estabilidade macroeconômica e política, para nossa tradição de
respeitar contratos.
Revertendo a queda na indústria
Aqui não temos dúvida de que a economia mundial
caminha para recessão com excesso de liquidez. A China reduzirá
crescimento para 7,5% com a clara intenção de reverter o modelo para
dentro. Outros grandes países vão perseguir esse fortalecimento do
mercado interno, com, a possível exceção da Índia, que tem um déficit
externo muito complicado.
Temos que ter consciência disso.
A situação atual não é a mesma de 2011. Nós tínhamos
absorvido a expansão monetária dos Estados Unidos que de uma forma ou
outra foi encaixada. Agora é absolutamente diferente, é recessão com
uma gigantesca expansão monetária acumulada e uma tendência a uma volta
aos mercados domésticos.
Vamos ter uma política clara em relação ao Brasil, da
qual o melhor exemplo é a revisão do acordo automotivo com o México.
Foi feito em 2002, em outra conjuntura, na qual cabia o acordo. E está
em vigor até agora, em condições não adequadas ao Brasil.
O Brasil vai institucionalmente tomar medidas para
garantir que nosso mercado interno não seja canibalizado. Tem queda na
indústria, mas dá para reverter. Não daria se deixássemos continuar por
dois, três anos. Agora dá e vamos fazer o possível e o impossível para
defender a indústria nacional.
O papel da redução dos juros pelo BC
A redução dos juros, pelo Banco Central, não é só para
esquentar a economia brasileira. Cumprimento o BC porque a intenção
maior é equilibrar a taxa interna com a internacional. Hoje em dia esse
diferencial é responsável pela maior arbitragem que existe no mundo.
Iremos fazer isso sem comprometer a luta contra a inflação.
O fantasmas das falsas crises políticas
Existe uma forma quase fantasmagórica de cobrir a
política. A imprensa vem falando em crise com a base aliada. Não existe
crise. Os conflitos - que sempre existirão - tem a ver com os processos
pelos quais exercemos o nosso presidencialismo. Tem que ser de
coalizão, mas não deixa de ser presidencialismo.
No caso do Brasil, alcançamos grande maturidade nas
relações executivo-legislativo e executivo-judiciário. Podemos nos
vangloriar de ter certa estabilidade.
Por aqui seria inconcebível uma relação
Executivo-Congresso do tipo democrata-republicano As diferentes
opiniões que se estruturam dentro da sociedade brasileira não
permitiriam isso.
Temos tradição de sermos obrigados, como políticos que
somos, a olhar o interesse de todos: o que nos EUA às vezes me parece
que não é o caso.
Ninguém aqui pode durante muito tempo só defender seus interesses específicos sem que haja reação da parte da sociedade.
É sempre bom que tanto Executivo quanto Legislativo e
Judiciários saibam que essa é exigência de postura de todos:
presidentes, ministros, deputados, senadores e juízes. Esse é aspecto
importante da nossa democracia e explica também porque, mesmo tendo
eleições bastante atritadas, em alguns casos até duras, logo depois da
eleiçao há como uma pacificação geral
Ai do presidente que não falar em nome de todos os brasileiros e brasileiras. Em outros países do mundo não se vê isso
Ao lado da coalizão há questão do interesse de todos,
balanço do presidencialismo que fala em nome de todos e coalizão que
são interesses partidários. É normal que se reivindique e se debata. É
intrínseco a esse processo
E partidos não podem arcar com ônus de inviabilizar
acordos: são partes do acordo. Quando votam contra governo, são pontos
muito específicos. Não tem desvio, conduta inadequada: que eles façam
assim é da regra do jogo, que façamos de outro é da regra do jogo.
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Dona Dilma, no tocante às economias mostra ao que veio e nos dá o
alento de, tendo votado nela, estarmos em boas mãos... Deus, se não é
brasileiro, deve gostar e muito de nós, na primeira crise mundial do
Século XXI nos brindou com Lula, o conciliador com intuição política
nas alturas, agora nos brinda com um "poste" mais charmoso, antenado,
determinado e pragmático, exatamente o que precisamos nesses anos
incertos que estão por vir.
Parabens a "Vanda" pela entrevista ao "blog sujo" do Mouro (prefiro
chamá-la por esse nome pois sempre vejo nos olhos dela a beleza e a
chama rebelde de sua companheira de "armas" Yara Yavelberg). E que
Nassif se prepare, o esgoto não vai deixar barato... "blogueiro
chapa-branca" vai ser o menor elogio.
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