Dilma... primeiro discurso pós 2º turno
Desmontar os palanques significa
perceber que na democracia – em toda e qualquer democracia – no processo
eleitoral se disputam visões, propostas, as mais diferentes, e essas
propostas e essas visões são levadas ao escrutínio popular.
O povo vai decidir o que ele considera que seja a proposta que ganhará majoritariamente apoio e aquela que não ganhará.
Isso significa ter consciência do que a democracia é.
A democracia é, primeiro, esse fato: você disputa a eleição, se submete e pode ou não, ganhar.
O ato de poder ou não ganhar faz parte do jogo democrático. Há que saber ganhar, como há que saber perder.
As duas exigem uma atitude.
A atitude do ganhador não pode ser nem de soberba, nem pretensão de ser o último grito em matéria de visão política.
Não pode, de maneira alguma,
retratar uma visão pretensamente mandatada por um processo qualquer que
faz com que não seja necessário nem o diálogo, nem a construção de
consensos, nem a construção de, como vocês chamam, pontes.
Quando eu fiz a minha manifestação,
logo depois da eleição, eu afirmei: toda eleição, ela indica um
processo, ela indica um processo.
Neste caso nosso, duas palavras
ganharam destaque: mudança e reforma, indicando, assim, que o governo,
apesar de ter uma presidenta reeleita, tem de ser um governo que
proponha mudanças e reformas.
Ao mesmo tempo, é um governo que
tem de governar para todos os eleitores, independentemente do qual seja o
voto daquele eleitor ou o que ele represente.
Isso é decisivo que se entenda que faz parte do processo democrático.
Qualquer tentativa de retaliação
por parte de quem ganhou, ou ressentimento por parte de quem perdeu, é
uma incompreensão do processo democrático.
E mais, criaria no Brasil um quadro
caótico: o presidente eleito por um lado não conversa com o governador
eleito por outro. O senador eleito por um lado não conversa com o outro
senador eleito por outro.
Não pode ser assim.
Isto não implica que nós podemos pretender que alguém abra mão das suas convicções ou das suas posições.
Ninguém deve abrir mão das suas convicções, nem das suas posições.
O que nós temos que defender é um
diálogo com base em propostas, não tem diálogo genérico, é com base no
que nós consideramos o correto e outros consideram um pouco diferente,
então, tem de ver se dá para fazer um encontro em uma posição
consensual.
É disso que se trata, não tem mais nenhuma vírgula a mais, nem a menos.
Agora, qualquer suposição que uma campanha não acirra ânimos, também não seria real. Ela acirra ânimos, ela acirra ânimos…
Agora, qual é a nossa função como cidadãos brasileiros?
Da presidenta a todas as lideranças, é mudar o ritmo da discussão.
Se a discussão era uma discussão
que acirrava ânimos, até porque você tem de mostrar as diferenças e, ao
mostrar as diferenças, você ressalta mais o que é diferente do que é
possivelmente comum, nós agora temos que fazer a trajetória inversa.
Isso ocorre em qualquer democracia madura do mundo, em qualquer uma.
Eu queria dizer que nós temos algumas características que eu considero que nós temos de valorizar.
Nós saímos de um processo
ditatorial, fizemos uma transição democrática e estamos em uma eleição
que, de fato, cada vez mais aprofunda a democracia no Brasil.
Nós sabemos que o espaço principal
de diálogo é no Congresso, porque no Congresso está expressa toda a
diversidade da Nação brasileira, diversidade essa que todos nós temos de
valorizar porque é o que marca e é a nossa característica intrínseca
mais forte.
Nós somos uma nação multidiversa,
portanto somos uma sociedade multidiversa. E o que se expressa no
Congresso é essa sociedade, essa nação. E é ali que nós temos um local
de diálogo.
Isso não significa que nós não
tenhamos os partidos políticos, os órgãos diferentes do governo de
dialogar com os diferentes setores, de dialogar, por exemplo, com o
agronegócio, de dialogar com a agricultura familiar, de dialogar com a
indústria.
Temos de dialogar com todos os
setores, com os movimentos sociais, com as centrais sindicais, enfim,
nós temos de ter uma abertura para dialogar com todos.
Agora, o espaço privilegiado de
articulação política é o Congresso Nacional. E é lá que se dará,
basicamente, a relação entre o governo e os partidos.
Essa relação, pra mim, ela é uma
relação estratégica. E quando eu cumprimentei a sobriedade, a pedagógica
sobriedade do PSD, é porque eu acho que é muito importante para o
Brasil uma relação como a pretendida pelo PSD e a que tem sido
desenvolvida ao longo do processo com o meu governo.
Quero cumprimentá-los por isso, porque eu acho que é um exemplo relacionamento político, sóbrio e concreto.
Eu quero, também, dizer que eu
farei as mudanças que todos nós escutamos ao longo da campanha
eleitoral, antes da campanha eleitoral e sabemos que estamos escutando
sistematicamente.
Essas mudanças, nós temos de saber
que elas serão o resultado da vontade, do trabalho e da articulação do
governo, dos partidos que integram nossa base aliada, do Congresso e,
portanto, dos partidos da base com a oposição.
Essas mudanças, elas são fruto de um processo de síntese que nós vamos levar a cabo.
(…)
E aí, eu queria dizer quais são os
principais pontos para essas mudanças. Em termos de metas é aceleração
do crescimento, combate à inflação, preservação da responsabilidade
fiscal, continuidade da expansão do emprego e da renda, e da inclusão
social.
Em cima desses pontos mais simples que se dá o nosso processo.
Agora, eu conto com o PSD, também para que a gente consiga, primeiro, de fato efetivar uma reforma política.
Acho que o Brasil precisa de uma
reforma política. (…) Nós falharíamos se não fizéssemos uma reforma
política. O Brasil necessita dessa reforma.
É óbvio que ela passa pelo
Congresso, mas também não podemos descuidar da presença e dos interesses
populares expressos durante toda a campanha.
Dos 7 milhões de assinaturas
arrecadadas, das propostas colocadas e temos de entender este processo,
eu não pretendo, nem ninguém do governo pretende, ter a fórmula pronta
de como é que isso se dará.
Agora, nós temos de ter a convicção que é algo que temos de assumir e encaminhar.
Nós temos de ter capacidade de entender que, sem isso, o Brasil não dará os passos que tem de dar.
Acho que nós também temos de olhar e
todo mundo aqui sabe da dificuldade de fazer pelos conflitos
distributivos que enseja uma reforma tributária. Temos de ter capacidade
de entender isso. Sempre se cria um impasse na questão da reforma
tributária.
Eu considero que nós conseguimos
mostrar um caminho de reforma tributária quando demos um passo na
universalização do Simples. O processo mais similar a uma reforma
tributária feita no Brasil foi a universalização do Simples e este
processo que nós nos comprometemos durante a campanha e faremos que é
(…) o fim do abismo tributário, no caso dos micro e pequenos
empreendedores. Foi um desafio, conseguimos fazer.
Agora, é um passo, ele mostra um caminho, mostra uma direção de simplificação, de unificação e de fim da burocracia.
A outra questão que eu acho que nós teremos de ter muita clareza sobre ela é mais acesso e qualidade na educação e na saúde.
(…)
Posto que aqui tem governadores
eleitos, mais do que nunca – vice-governadores também – mais do que
nunca tratar de (…) Uma política nova de segurança pública; nós nos
comprometemos, na campanha, em enviar uma mudança na Constituição para
responsabilizar a União, também, pela política de segurança. É algo
fundamental para poder dar unidade e consistência, agir de forma
coordenada no plano nacional e mais rigor no combate à corrupção e à
impunidade. E eu acho que está casado também com a questão da reforma
política.
(…)
o PSD para mim é protagonista. Eu acho que o PSDB é oposição.
… o resultado da eleição é o
seguinte: eu fui eleita situação, reeleita presidente. E eles tiveram
menos votos, foram indicados para oposição.
É isso que é a democracia, a democracia faz esse processo, uns vão para oposição e outros vão para a situação, é da vida.
Saber perder é saber em que ponto
você está, não significa que nós vamos construir, como vocês disseram
aqui, um muro entre nós, né?
Um muro tem um lado do Brasil que é a situação e tem o outro lado do Brasil que é a oposição… não tem isso (…)
Os eleitores não são de ninguém,
não são meus, não são de ninguém. Os eleitores são os brasileiros que
nós temos que dar conta do que eles querem a partir de agora. Cada um de
nós, os governadores nos seus estados, que nós somos majoritários e os
senadores também que foram eleitos, mesmo por parte do eleitorado, nunca
é 100%, também serão senadores de todos os integrantes da população que
representam.
(…)
o PSD é um integrante do meu
governo, faz parte da minha base aliada e, portanto, é protagonista.
Protagonista significa não só apoio passivo, protagonista significa
agente ativo. É essa a minha, o meu intuito, é essa a minha visão e eu
vou me comportar, a partir de agora, baseada nesse posicionamento e
quero dizer uma coisa: eu tenho muito clareza da importância que o PSD
ocupa nesse cenário partidário brasileiro. Muita clareza do papel e da
importância desse papel. Cada partido ocupa um papel, todos eles são
extremamente importantes, mas o PSD tem uma característica que eu
comecei falando e vou encerrar com ela: acredito que o centro político é
um espaço privilegiado nas democracias e que um centro político é um
espaço que nós temos de considerar como sendo extremamente importante.
Muitas vezes, ali no centro político, (é) que os diferentes conflitos da sociedade podem ter resolução.
Então, é isso que eu espero do
PSD, (…) e faço minhas palavras as do (Cláudio) Lembo: é muito
significativo que a minha primeira reunião comece com este nível
político de relacionamento no qual pessoas, que mesmo não votando em
mim, estão dispostas a trabalhar junto.
Então eu agradeço também de coração a esses que não votaram em mim, e agora me apoiam. Obrigada.
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