Pescado do PHA:
"Publicado em 14/10/2013
Lula: tiraram a CPMF e
eu saí com 87% de apoio
A ALCA era para tornar a América Latina um mercado cativo para os Estados Unidos
O Conversa Afiada reproduz, da Carta Maior, entrevista do Nunca Dantes ao jornal Pagina12, da Argentina.
Como se sabe, quem tirou a CPMF foi a soma da FIE P (*) com o Príncipe da Privataria, aí homenageado pelo Bessinha.
Pouco antes de
partir para Buenos Aires onde vai participar de uma conferência sobre a
responsabilidade dos empresários, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva conversou com o jornal sobre Cristina, o não à ALCA , as novidades
da política brasileira com Marina Silva aliada ao PSB , os protestos de
junho e a importância da integração sul-americana.
Visivelmente,
parece não haver uma vigilância especial no edifício modernista pintado
de branco na Rua Pouso Alegre 21, no bairro do Ipiranga em São Paulo.
Nem mesmo parece um escritório abarrotado de assessores. A recepcionista
que ofereceu o cafezinho, com menos de 30 anos, sorri. Em um corredor
pode tropeçar em um ex-ministro que está fazendo política, mas agora
desfruta de um escritório longe do ritmo esgotante do Planalto, a Casa
Rosada do Brasil. Anteriormente, o Instituto no bairro Ipiranga, foi
chamado de Cidadania. Agora, simplesmente chamado de Instituto Lula,
como seu chefe, que ocupou oito anos na presidência, e está a ponto de
completar 68 anos de idade no próximo dia 27, ainda ativo, muito ativo,
dentro e fora do Brasil.
Você está preocupado com a saúde de Cristina?
Nossa
primeira preocupação é com o pleno restabelecimento de uma grande amiga
e líder política. Cristina Kirchnner não é importante apenas para a
Argentina, ela é importante para toda a região. Mas eu tenho plena
confiança de que ela se recuperará rapidamente.
Em sua última visita a Argentina, você propôs formular uma doutrina de integração. Qual seria o foco principal?
Os
conservadores tentam negar esse fato, mas a América do Sul avançou
muito nos últimos 10 anos. Todos os nossos países vivem a democracia,
crescem e se desenvolvem com distribuição de renda e inclusão social. A
região é hoje muito mais soberana e respeitada no mundo. O Mercosul,
apesar dos seus inimigos, está vivo e funcionando. Criamos a Unasul e a
Celac. Mas é claro que a nossa integração pode – e deve – ser muito mais
profunda e abrangente. Estou convencido de que, para isso, não bastam
as visões de curto prazo. Precisamos de um pensamento realmente
estratégico que enfrente os problemas estruturais da integração, que
apresente soluções para os desafios da integração física, energética,
produtiva, sócio laboral, cultural, ambiental, financeira etc. Temos que
ir além dos governos. Envolver a sociedade civil, os sindicatos, os
empresários, a universidade, a juventude. Trata-se de construir uma
vontade popular de integração. O fundamental é que todos entendam o
quanto podemos ganhar coletivamente, na economia, na política, na
igualdade social, na vida cultural, quanto mais nos integrarmos e
fortalecermos as parcerias entre nossos países. Tenho me dedicado
bastante a essa reflexão, em diálogo com os setores progressistas da
região.
Você acha que hoje a relação entre a Argentina e Brasil tem uma política intensa adequada ou deve ser mais profunda ?
Eu
acho que a nossa relação viveu, nos últimos 10 anos, o melhor período
da sua história. Mas com certeza, pode ser ainda mais forte. No plano
politico, temos um excelente diálogo. Mas podemos ampliar – e muito – a
integração física, cultural, de cadeias produtivas, de turismo.
Precisamos agora de mais estudantes brasileiros nas universidades
argentinas, e mais argentinos nas universidades brasileiras, mais
turistas argentinos conhecendo o Brasil, ainda mais brasileiros tendo
oportunidade de conhecer e viajar à Argentina, mais empresas dos dois
países associadas para atuar em terceiros mercados. O potencial daquilo
que podemos fazer trabalhando juntos só começou a ser explorado. É
importante termos clareza disso.
O que mudou para a América do Sul a “não” formação de uma Aliança de Livre Comércio das Américas em novembro de 2005?
Foi
fundamental em 2005, barrarmos aquela proposta da Alca, em Mar del
Plata. Ela não era de verdadeira integração, mas sim de anexação
econômica. Afirmando a sua soberania, a América do Sul buscou um caminho
próprio e muito mais construtivo. Ao invés de um mercado cativo para os
Estados Unidos, como estava previsto na Alca, hoje buscamos um mercado
compartilhado, em benefício do desenvolvimento de todos os países da
região. Acho que tanto nas políticas econômicas quanto nas relações
internacionais a região tem conseguido trabalhar de forma conjunta ao
mesmo tempo em que respeitamos a soberania de cada país. E isso pode
parecer óbvio, mas é uma grande conquista quando analisamos a história
da América do Sul. Se não tivéssemos evitado a Alca, a região não teria
dado o salto social e econômico que deu na última década. Argentina,
Brasil e Venezuela tiveram um papel central nesse processo. Nestor
Kirchner e Hugo Chávez foram grandes aliados nesse processo.
Cada
um à sua maneira, os países da América do Sul lutaram contra a pobreza e
a miséria extrema. Como se pode acelerar a luta contra ambas
realidades?
Tenho defendido, em todos os debates
que participo que é fundamental os governos incluírem os pobres no
orçamento. Porque os mais pobres muitas vezes não são capazes de se
organizar nem para se manifestar. Não tem sindicato, nem partido. Quando
chega o orçamento todos estão lá menos os pobres: os militares, os
diplomatas, a infraestrutura…menos os pobres. Então é necessário incluir
os mais frágeis, os que mais precisam do Estado, no orçamento. Outra
coisa é que precisamos parar de tratar o dinheiro para o social como
gasto e o dinheiro para o rico como investimento. Porque os economistas
são incríveis. Dinheiro para ajudar a instalar uma indústria é
investimento. Mas dinheiro para dar emprego, segurança alimentar,
educação, hospital, para as pessoas saírem da pobreza, é chamado de
gasto. E quanto custa a doença, a fome, a pobreza? Quem calcula isso?
Então ao invés de verem os pobres como um problema, é preciso
enxergá-los como parte da solução. Se dermos recursos aos mais pobres,
eles viram consumidores e fazem a roda da economia girar. Se dermos
oportunidades aos mais pobres, eles viram trabalhadores. Se entendermos
isso, veremos que podemos erradicar a pobreza extrema em nossos países e
também em todo o mundo.
O que os governos devem
fazer com as novas demandas como as reivindicações de melhora na
política de saúde e de transporte público? As manifestações em junho
surpreenderam o Partido dos Trabalhadores?
Em
certo sentido, surpreenderam sim. Já que o país avançou de modo
extraordinário nos últimos anos. Mas as manifestações foram um alerta
importante para nós. Elas impedem qualquer risco de acomodação.
Incitam-nos a fazer ainda mais. Até porque um povo que conseguiu tantas
conquistas, no período recente, é natural que queira mais. Milhões de
pessoas tiveram acesso ao ensino superior, e agora querem empregos
qualificados. Passaram a contar com serviços públicos de que antes não
dispunham, e agora querem que eles tenham melhor qualidade. Milhões de
brasileiros puderam comprar o seu primeiro carro e hoje também viajam de
avião. A contrapartida, no entanto, deve ser um transporte público
eficiente e digno, que reduza o trânsito, tornando mais digna a vida nas
grandes cidades. É uma nova geração, mais educada e exigente e isso é
muito bom. Eu acho que o povo tem mesmo que exigir mais. E cabe a nós,
políticos, ouvir essas demandas e trabalhar ainda mais.
Você considera que o PT e o governo reagiram a tempo?
Eu
acho que a presidenta Dilma Rousseff teve uma sensibilidade
extraordinária. Ela fez cinco grandes propostas para atender as vozes
das ruas: um plebiscito pela reforma política; mais recursos para o
transporte nas grandes cidades; destinar os novos recursos do petróleo
(o chamado pré-sal) para a educação; garantir médicos na periferia das
grandes cidades e em todas as regiões do interior; e intensificar o
combate à inflação. De lá para cá eu vejo que a população entendeu e
está valorizando os esforços da presidenta e que a solução para esses
problemas se dará progressivamente. Eles exigem muito trabalho e
recursos. A saúde por exemplo. A oposição ao meu governo acabou com um
imposto, tirando 40 bilhões de reais por ano da saúde, achando que ia me
prejudicar. Mas eles não prejudicaram a mim, que terminei o governo com
87% de aprovação; prejudicaram o povo brasileiro, que precisava
daqueles recursos para ter um melhor atendimento, acesso a exames e
medicamentos mais complexos. É parecido com essa lamentável
intransigência da oposição americana ao projeto para a saúde proposto
pelo presidente Barack Obama.
Lula presidente nas eleições de 2014 é uma opção absolutamente descartada?
Minha
candidata à reeleição em 2014 é a presidenta Dilma Rousseff. E eu serei
um militante dedicado da presidenta. Porque eu tenho a seguinte
convicção: assim como meu segundo mandato foi muito melhor que o
primeiro, o segundo mandato da Dilma também será.
O que você espera da revisão judicial no processo chamado Mensalão?Como o processo ainda não foi finalizado, eu, na condição de ex-presidente, não tenho me pronunciado sobre o julgamento.Qual
será a base da relação entre o Brasil e os Estados Unidos depois da
espionagem à Dilma e a suspensão da visita de Estado a Washington,
marcada para este mês?São muito graves os atos de
espionagem contra os chefes de Estado, não só do Brasil, mas também do
México, e autoridades e governos de muitos outros países. Não podemos
aceitar como normal interceptação de telefonemas e a invasão da
correspondência reservada dos Presidentes da República de países amigos.
Foram ações que feriram nossa soberania e os princípios mais
elementares da legalidade internacional. Acho que precisamos aguardar as
explicações americanas sobre a espionagem, e um pedido de desculpas,
que ainda não veio. O Brasil é um país que respeita e tem relações
pacíficas com as outras nações do mundo, e quer ser respeitado da mesma
forma. Eu acho que a presidenta Dilma Rousseff fez um grande discurso
nas Nações Unidas, ao apontar que a internet, esta invenção maravilhosa
que aproxima os povos do mundo, não pode se tornar um terreno de
espionagem ou de Guerra. Espero que outros países se juntem ao Brasil
no esforço de uma melhor governança internacional da internet. E acho
que provavelmente a maioria dos cidadãos dos países que praticaram essa
espionagem concorda que é inaceitável invadir comunicações privadas de
milhões de cidadãos, espionar empresas como a Petrobras ou a presidenta
de um país amigo e pacífico.Fonte: Instituto Lula , 14/10/2013.A entrevista no site do jornal Página 12 está disponível em http://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/1-231217-2013-10-14.html"
_________________________________________________________________
Como em todas as vezes, Lula se mostra claro, limpo e objetivo nas
sua sentenças… e é isso que deixa com urticária seus adversários (e por
tabela, adversários do povo brasileiro).
Destaco a seguinte passagem:
“Lula presidente nas eleições de 2014 é uma opção absolutamente descartada?
Minha candidata à reeleição em 2014 é a presidenta Dilma Rousseff. E eu serei um militante dedicado da presidenta.
Porque eu tenho a seguinte convicção: assim como meu segundo mandato
foi muito melhor que o primeiro, o segundo mandato da Dilma também
será.”
E que militante!!!
É provável que o PPS de Robert Freyry entre com um recurso noTSE
querendo impedir o Lulão de participar dessa cruzada em 2014…
aguardemos.